terça-feira, 13 de outubro de 2015

Coragem para ser Ético





Vivemos no mundo sensível, onde cada conceito vem impregnado de emoções, sentimentos, valores e estado de espírito de cada um.   Nele tudo é instável e variável, e cada pessoa se apega a um aspecto de aparência transformando-o em sua verdade.

Há  porém, um outro mundo, o supra-sensível ou inteligível, que existe de forma mais efetiva, sendo o verdadeiro mundo real.

Para Platão, estes dois mundos embora separados, estariam relacionados; as coisas sensíveis seriam sempre imperfeitas, como numa imitação. Exemplo disto é o artista que pinta em suas telas a natureza, mas esta representação é imperfeita; isso explicaria porque o mundo sensível é variado e em constante mutação, porque cada representação vem impregnada da interpretação de quem a representa.  

Assim, no mundo sensível o homem  poderia conhecer  as idéias, como quem se lembra do modelo de que foi tirada a cópia.  Mas, no mundo supra-sensível a alma reconheceria as idéias, porque participa do mundo inteligível.  


Conhecer, seria na verdade reconhecer, lembrar de idéias que foram contempladas pela alma na sua essência, mas esquecidas por causa do apego do corpo  às coisas sensíveis.  O despertar da alma para o mundo inteligível se faz pelo AMOR.


Enquanto no mundo sensível o amor é carnal e deseja um corpo belo, no mundo supra-sensível a alma passa a desejar a própria Beleza e o conhecimento da sua ideia.   

E o que pode haver de mais belo para o intelecto senão a verdade absoluta de todas as coisas ?


Pensando sobre estas coisas, lembrei-me de uma passagem bíblica, Mateus, 7:12 a qual fala sobre o Amor.  "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas."

Há pouco tempo submeti-me a uma prova, da qual constava uma redação.  O tema proposto foi: "A Ética".  Sem maiores explicações.  Diante do papel, me mantive quieta, enquanto minhas idéias fervilhavam...  A liberdade na escolha do aspecto a ser abordado, permitiu que eu voasse para fora das dimensões do mundo sensível.

Assim, voei longe e me abstive de analisar o aspecto sensível da ética, variável de acordo com as circunstâncias e pontos de vista, para  pensar no sentido inteligível da Ética, ou seja o absoluto.

Estaríamos nós, vivendo o conceito da Ética contemplada por nossa alma anteriormente, ou é o da imitação, do mundo sensível, variável de acordo com os sentimentos e pontos de vista de cada um, que tem direcionado nossos passos? 

Pode um princípio absoluto ter várias formas de assimilação, interpretação e compreensão?


Ética,  pressupõe LIBERDADE - no sentido amplo filosófico -, num mundo de todas as possibilidades, que deve ser exercida com responsabilidade e respeito a princípios absolutos que regem a ordem universal.  Me refiro  ao sentido absoluto da Ética, que independe do segmento avaliado ou do avaliador, aquele que apenas É, e que  por SER numa esfera maior, ordena todos os outros em esferas menores.

ÉTICA é VERDADE ABSOLUTA, JUSTIÇA,  Liberdade e PAZ.

É preciso nos revestirmos de CORAGEM para reconhecer VALORES ABSOLUTOS, quando a ideia do mundo sensível está tão impregnada nos homens, ditando CONDUTAS, das quais ao tentarmos nos desvencilhar, somos apontados por ousarmos ser diferentes.  

Só estaremos desvinculados  do apego do corpo às coisas sensíveis, quando reconhecermos que todo conhecimento já foi experimentado pela alma e que conhecimento é sinônimo de verdade.


Ética é o próprio AMOR que faz cumprir o versículo de Mateus - "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam também a eles". AMOR, regendo a orquestra da vida, com harmonia e delicadeza.

Platão ilustra o Amor que deseja a Verdade por meio da alegoria da Caverna, que abre o Livro VII de A República:

"Havia uma caverna, na qual muitos homens encontravam-se acorrentados de modo que só lhes era permitido olhar para as paredes escuras.  Atrás deles, havia uma fogueira cuja luz projetava na parede sombras obscuras - a única realidade para esses homens.  Um deles conseguiu escapar um dia e fora da caverna teve sua visão ofuscada pela intensa luz solar.  Ao se acostumar, porém, à claridade viu a verdadeira e bela realidade: o mundo inteligível.  Maravilhado, não podia deixar de voltar à caverna e contar aos seus companheiros a sua descoberta.  Mas, eles não o compreenderam, ouviram, riram e depois mataram-no."

Aquele que reconhece a verdadeira realidade tem a missão de  AMOR de retornar à caverna, mesmo que não seja compreendido.








Nenhum comentário:

Postar um comentário