sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A vida e os ipês



Ultimamente andar pelas ruas de São Paulo tem me proporcionado um prazer infinito: mirar as copas dos ipês, repletas de buques de flores, que enchem meu coração de alegria e esperança – a natureza nos brinda a cada dia com seus milagres e afetos.

Além das copas, completamente entupidas de flores de cores  variadas – amarelo, lilás, roxo, rosa e branco, o entorno fica absurdamente transformado pela presença deste milagre. Calçadas e asfalto atapetados e carros adornados, dão às regiões urbanas um ar bucólico, depois de desabrochados os delicados cálices. Não há como ficar insensível a este espetáculo que acontece no inverno, emprestando cor à natureza pálida pela alteração de temperatura e escassez de chuva.

Penso na impressionante capacidade de transformação desta árvore. No inverno, as suas folhas caem todas e, quando toda a manifestação de vida nela parece ter ficado impossível, coloridos buques brotam e enfeitam toda a cidade – espetáculo com prazo de validade de quase dois meses.

Acredito que assim acontece conosco também. Temos várias florações durante a nossa existência e em seus intervalos, muitas vezes parecem os sentimentos terem se congelado, dando lugar a uma estagnação infinita, que imaginamos jamais terminar.

Mas, o milagre que acontece em todas as coisas vivas sobre a terra, faz brotar dentro de cada ser, a força natural que propulsiona a floração, e, inesperadamente lá estamos nós, vicejando novamente na paisagem e podendo oferecer um belo espetáculo – o da vida!

Estamos sempre de malas prontas, quando o assunto é viagem, mas, o que é a vida, senão uma grande viagem? Qual é a bagagem que você tem colocado na sua mala? E quais são as cores que a cada floração você oferece ao seu entorno? Ao contrário da floração do ipê, não temos prazo de validade anunciado, tendo a vida de ser vivida em toda a sua plenitude, com toda a vitalidade, como se cada dia fosse único.

É na construção e observância diárias que amealhamos a bagagem da vida.


Tudo que acontece fora de nós também nos pertence.

Fazemos parte da trama da vida, onde tudo está interligado entre si e com o Criador.

Não há como separar o ipê de mim e eu do ipê – somos uma unidade. 



Um comentário: